quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Briga de namorado

A formiga e a cigarra nunca haviam se visto. As vidas eram diferentes e cada uma andava com sua espécie, falando sua língua.
Um dia, ambas foram comprar pão, e se cruzaram. Mas não se viram, porque estavam distraídas, a formiguinha em comprar o necessário, e a cigarra em fazer bagunça na loja, e se foram.
Mais alguns dias se passaram, e elas então se cruzaram de novo, e depois mais uma vez e mais uma, até que se notaram.
A formiguinha então falou pra cigarra “dona cigarra, ando reparando em você nos últimos tempos...sempre fazendo bagunça e folia... o inverno esta chegando dona cigarra, e ele vem bravo este ano. Você não vai se preparar?”.
E a cigarra nem respondeu, riu e foi se embora. Porque ela ouviu a formiga, mas não falavam a mesma língua, então aquelas palavras fizeram pouco sentido.
Os meses foram se passando – a cigarra saracoteando e a formiga se organizando - e elas foram se apaixonando, mas não conseguiam se entender, porque a cigarra mantinha tudo do jeito dela, e a formiga do dela, e assim ficava difícil.
Foi esfriando, esfriando e o inverno chegou; bravo e inquieto como a formiga disse que seria.
A formiga estava preparada, é claro, afinal ela é a formiga, e a cigarra, despreparada e com muito frio.
A despreparada foi bater na porta da formiga, suplicando “por favor, me ajude nesse momento, estou sofrendo”. A outra não entendeu as palavras, mas viu os gestos e a deixou entrar.
Os dias foram se passando, e elas já estavam até batendo papo. Construíram uma língua nova, a linguagem das duas, e os ambientes da casa foram se alterando. A organizada gostava de tudo a seu jeito, então deixava suas coisas num canto, mas respeitava o canto da outra, que era a maior bagunça do mundo, mas que ela ficava furiosa se ocupassem seu espaço.
Conversas, brigas e risadas depois, o verão chegou, e era o momento da cigarrinha voltar a sua vida de cantora, voadora e bagunceira.
Foi uma grande choradeira e quando a formiga abriu a porta, a cigarra viu que já não queria mais ir. As duas tinham encontrado seu espaço, falavam igual, se entendiam muito bem e, o principal, a formiga a tinha conquistado.

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