segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Acho que te decepcionei

Acorda atrasado, se arruma e pega o ônibus.
Na verdade são dois ônibus, talvez três.
Não reclama nem resmunga da vida. Abre um sorriso, olha pra cintura e comenta ih, esqueci o cinto outra vez!
E tudo bem. Já sei até a risada que som que tem.
Agora você está assim, confuso e chateado, talvez achando que eu te ensinei mais do que aprendi, mas não, eu aprendi.
São coisas secretas, que me ajudam a ser mais eu e que você nem imagina.
São coisas que só pessoas muito interessantes têm a ensinar.
E eu adoro pessoas interessantes.
E você nem imagina.
Vai apenas olhar para os pés, perceber que colocou meias brancas ao invés de pretas, sorrir novamente e explicar que um bom lugar pra limpar a mão melada é na meia.
Quando estou de meia, lembro da lição.

***

(e penso qual teria sido a cara do pepe nessa hora...)

domingo, 23 de dezembro de 2007

Um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela.

Dicionário dos sonhos

São vários os personagens.
A coxuxa era estranha, porque não consegui saber quem era ela. Tinha a xuxa, qualquer outra que aparecesse era a coxuxa.
A gente só concordava.
Tinha o tio de bigodes – um personagem inteiro, com qualidades e defeitos, criado a partir de um óculos sem lente barato acoplado a um bigode mal feito e à imaginação das petizes (palavra também criada pelo dicionário dos sonhos).
O tio de bigodes chegava, colocava no colo, contava histórias incríveis e tinha uma voz estranha.
Eu não tinha dúvidas sobre o tio de bigodes porque o via com freqüência. Acho que foi o que mais nos visitou.
Tinha a tia urubusina, mas mamãe se fantasiava mal e eu desconfiava que fosse ela. Como era divertido, então tudo bem que a mamãe e a tia urubusina fossem a mesma pessoa.
Papai dizia que o lebrão tinha dito isso, tinha dito aquilo, mas o tal nunca deu as caras.
Finalmente apareceu o cabrito, estávamos ansiosas por conhecê-lo.
Não sei de onde papai arranjou aquele nariz gigante.
Tal foi a cara de susto que fizemos que ele teve um ataque de riso com a fantasia. Antes que a mágica fosse desfeita e houvesse choro, mamãe se despediu segurando o riso “tchau cabrito!” e papai gargalhando foi embora correndo.
Tinham muitos outros personagens no dicionário dos sonhos.
Aprendemos a gargalhar graças a eles.

É carinho, não?

Eu gosto do seu jeito de sorrir. Já te falei isso?
Você olha com esse olhar secreto – que aos poucos decifro e admiro – ergue a sobrancelha levemente – só uma delas – e sorri.
Mas não é de uma risada que estou falando.
É desse sorriso discreto que pouco se descobre e pouco se vê, mas que eu sei que é carinho.
Isso eu decifrei sozinha.
Sorria pra mim assim. Eu me rendo com seu sorriso.

Para suas crises

Todo mundo é ignorante,
só que em assuntos diferentes.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Nascerás das cinzas

Puts, hoje é o dia D.
Desembarquei na Normandia hoje de manhã.
Munida apenas de um coletinho a prova de balas e uma granada sem pólvora na mão.
Duas despedidas muito duras.... Digo tchau ao escritório de dia, saio daqui e vou direto para a casa dele, levá-lo ao aeroporto.
Amanha sou outra! Pele nova, de sardinhas, loira, peituda e de olhos verdes!

Precisa ser leve para surfar

Tem pessoas que são assim, iguais a você.
Elas não têm jeito igual ao seu, não são parecidas fisicamente,
Nem sequer confundem a voz com a sua.
Mas são iguais porque são assim: leves.
Elas não querem saber por que, quando, onde.
Se eu quero verde, vai ser verde. Se quero azul, vai ser azul. Colocam até bolinhas brancas se eu pedir.
Elas não vão ler meu blog, nem vão se interessar pelo meu trabalho.
Não vão perceber se minha roupa está suja, nem se coloquei qualquer detalhe diferente para estar mais atraente.
Elas querem apenas estar junto, sem nada para encrencar.
Querem a minha companhia.
Eu achava que esse tipo não combinava comigo, mas percebi que estava errada. Essas pessoas também se apaixonam, à maneira delas.
E é por isso que são iguais. São leves. Assim como você.

PS- Hoje fui no Jardim Sul e me lembrei do seguinte:

HAI-KAI
Alegrias e tristezas,
Certos e errados,
Riscos e benefícios,
Amores e maldades,
Tudo no fim,
Termina no Jardim Sul!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Catavento

Descobri!!
Descobri o porquê dessa música!!
O porquê dela penetrar e mexer comigo e me virar do avesso pra voltar logo em seguida.
Essa flautinha!
Essa melodia!
É uma infância querida,
Uma adolescência muito engraçada,
Uma maturidade com muito amor...
Ela é alegre, é forte e doce, é leve, é estranha e ao mesmo tempo ela é comum.
Conhecemos-nos há muito tempo porque a gente passeia junto, a música e eu.
Ela é assim, dança comigo, me faz pensar e querer levantar e rir e gritar bem alto.
Descobri!!
Ela é assim porque ela é minha vida.
Ela é assim porque ela sou eu!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Carta de natal para o professor Tibúrcio

Não sei se você vai ler esta carta, professor Tibúrcio, mas queria desejar-lhe um feliz natal.
Você não me conhece, mas eu te conheço há muito tempo. Desde que eu era uma tampinha.
Papai se vestia de professor Tibúrcio e aparecia da rua, do nada, para uma agradável tarde de aulas.
Pintava com pastel e aprendia muito mais que na escola.
Levava estrelinhas quando a arte ficava boa, mas as meninas também levavam estrelinhas. Todas podiam ganhar muitas estrelinhas, porque o que importava era a diversão e os sorrisos das Marias.
Aí o Tibúrcio me ensinou que o pato não tem quatro patas, coisa que a professora da escola esqueceu de me avisar.
Ele dava lanche e balinhas e a gente se sujava de canetinha.
Tibúrcio nem ligava.
No final da tarde ele ia ao desconhecido do mesmo jeito que tinha vindo, e papai reaparecia logo depois, ansioso por saber como tinha sido a aula.
Você não me conhece, mas minha infância foi mágica.
Obrigada.
E feliz natal

E a resposta....

minha pequena e doce mariana
como vc cresceu, quase q nao te reconhecia +
;-)
ainda bem q ficou esse afeto q mostra q a tv vai muito alem do q
dizem por ai...
obrigadissimo pelas suas palavras e carinho
receba meu beijinho
professor t

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

De São Paulo para Madrid

Estamos construindo nossa história.
Tijolinho por tijolinho.
Eu já chutei os tijolinhos algumas vezes, e eu sou forte. Arremessava-os longe. Eles se quebravam e machucavam muita gente, além da sujeira que fazia.
Mas agora é diferente. Está ficando mais sólido, firme.
Eu como boa taurina – mais canceriana que existe, como diz minha anjinha da sorte – de vez em quando quero pixar e estragar tudo, mas por puro impulso. Quando chego perto da construção, me emociono.
Tem as férias, as festas, as brincadeiras, os tibúrcios, os carinhos, as vezes que o cabelo da gente ficou sequinho e penteado – e a gente não era fácil, e agora, os livros de espanhol, com o doce recadinho.
Observo a construção e fico orgulhosa. Os meus impulsos podem até balançar um pouco a estrutura, mas ela já não desmonta mais.
Estamos construindo a nossa história.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Negro, sambista e malandro, por gentileza.

Um beija-flor

A gente sempre ia pra praia.
Era aquela mulherada bagunceira estirada na areia, sem nada pra fazer.
Não lembro de me preocupar com nada.
E cada uma era uma. Tinha a do alongamento; a que reclamava pra emprestar as roupas, a que tinha beijado e bebido demais, a que sempre mandava mensagem de texto para as irmãs e a que organizava tudo pra deixar tudo bem desorganizado.
Tinha também a que insistia em não se proteger do sol.
Todas se uniam nesse momento, mas não adiantava. Ela sempre passava bronzeador no rosto, e vinha com o mesmo papo. “Como posso passar protetor? Sou um beija-flor, vocês não vêem? Beija-flor tem os batimentos cardíacos acelerados. Ele vive pouco, mas intensamente”.
A praia a gente já não vai mais tanto, mas garanto que todas continuam iguais.
Menos o beija-flor. Ele aprendeu. E se transformou em uma bela menina-flor.
Ainda bem.

Fita Amarela

Fiz a cama na varanda, me esqueci do cobertor
Deu um vento na roseira, (ai, meus cuidados)
Me cobriu todo de flor.
Menina minha menina,
Não faça assim como eu
Que vivo louco de pena,
Porque ninguém me escolheu.
Fiz a cama na varanda
Me deitei pensando em ti,
Deu um vento na roseira, (ai, meus cuidados)
Eu do sono me esqueci.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Peguei emprestada essa mafalda tá?

...E eu sempre escuto “Isso dá dinheiro, tia?”...

Casa do Zezinho

Quer vir conhecer as crianças, vem. Não tem horário. A gente não tem nada pra esconder.
Falam que eu desvio dinheiro, desvio sim. Não dêem dinheiro na minha mão. A primeira criança que vier, ‘tia, eu preciso de chinelo’, ‘tia, precisamos de farinha’, se eu tiver, vou dar.

***

Me trate com carinho

Tem uma época do mês que não dá pra entender. O mundo vira de pernas para o ar.
Se você estava segura, esqueça. Não vai mais estar. Forte? Disposta?Independente? Esqueça, esqueça, esqueça.
Você vai ficar mole, sensível. Não grite comigo, fale que sou bonita e me trate com carinho.
É a época em que a mulher é mais mulher, e o homem não entende nada.
Uma folha caindo de um galho no final da tarde? Choro na certa.
Choradeira.
Devaneios e devaneios.
É um descontrole, uma perda da dimensão.
Passei reto por esse momentinho do mês algumas vezes este ano. Ignorei-o, ou ele me ignorou.
Mas agora eu mudei de idéia.
Venha, pode vir. Venham todos os sentimentos; venha o medo, a carência e o pânico pela solidão.
Venha o choro da forma que vier a inundar esse final de ano.
Venha.
Quero voltar a sentir.
Quero voltar a me permitir ser mulher.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

...


Regue com música o meu dia e prometo brotar uma flor mais bonita que a outra a cada estação.

Deixa passar

Agora deixa pra lá,
Tanto faz.
Tanta coisa rolou,
águas e águas,
e esse vai-e-vem.
Agora deixa pra lá
Com mais essa eu não aguento.
Não é que você tenha mudado,
nada disso,
eu é que não posso mais
com quem você sempre foi.
Deixa pra lá.

Universo Feminino III

Ela não foi. Sei que era aniversário, que se conhecem desde pequenas; mas tem um primo da aniversariante que é ex-namorado dela e está ficando com fulana.
Ah, sim, ela e fulana são super amigas, ontem mesmo jantaram juntas.
Mas então porque ela não foi? Uhm, porque não achava roupa, nada combinava, então ela não foi.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Esse banquinho branco

Esse banquinho branco é igualzinho aos de buteco
Mas ele está bonito e novinho.
Ele é um convite
É uma forma de preencher o vazio
É sinônimo de conversas gostosas jogadas fora
Gargalhadas
Algumas loirinhas geladas
Recordações
Mais gargalhadas
Um momento pra refletir
Estar sozinho ou acompanhado
Decorar o ambiente
Pedir uns petiscos, sujar os dedos
E realizar como é gostoso estar em boa companhia.
Mas é também um gesto doce
De alguém com muito amor.
Eu notei.

Intensidade

Fiz muito bem o curso da faculdade.
Eu era comunicativa, e fazia social.
Agora vou pra Cásper,
Está na hora de estudar.

O valor das pequenas coisas

Hoje, involuntariamente, senti saudades.
Não sei.
Não sei se porque nunca parei pra pensar que talvez desse certo, ao invés de só pensar que não tinha como funcionar.
Será que é porque você tem o nome preferido? Que eu tanto gosto? Ou porque você leva a sério as coisas que me interessam e sente.
Sente mesmo, com o coração. Não fala com a cabeça, como a maioria dos jovens de agora. Fala com o coração.
Acho que já sei por que foi. Ontem ouvi alguém falando “ahã”. Aquela resposta carinhosa que você dá quando a conversa tanto faz, o tom já virou infantil e a gente só não consegue colocar o telefone no gancho.
É, acho que foi esse “ahã”.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A Arca de Noé

Dizem que todos os bichos entraram na arca. Noé só ficava de olho na porta para conferir a bicharada e evitar que de repente, algum mais afoito resolvesse comer o outro. Mas, na verdade, ninguém comeu ninguém. Entraram todos e todos sobreviveram à chuvarada e aí estão: a raposa, o lobo, o gambá, o peru, o porco, a borboleta.
Sabe o que tudo isso quer dizer? Que a gente deve conviver com a diversidade zoológica. Conviver com todos os bichos porque tem lugar na arca para todo mundo.
Eu, no entanto, tenho uma reclamação. Aceito, sim, a diversidade e até a convivência com todos os animais. Confesso que até convivo, mas, não me obriguem a gostar de cobra, nem de aranha, nem de escorpião, nem de outras excentricidades vivas.

** Ganhei esse textinho de presente e fiquei confusa, ...afinal a aranha come as mosquinhas que não me deixam dormir a noite, não é mesmo?....

Meus olhos transbordaram

Peguei coisas suas.
Todos os minutos da minha vida eu peguei algo seu.
Eu peguei jóias, blusas, saias.
Peguei sapatos e até meias!
Mas essas coisas que peguei, eu já me esqueci.
Porque lembro de outras coisas suas que peguei.
Eu peguei a mania de ter mil fotos em mil lugares;
Eu peguei a vontade de ter amigos;
Eu peguei a mania de escrever no diário;
Eu peguei na sua mão quando você ficou com febre em Marrocos;
Eu peguei o baldinho que você mandou eu pegar no bosquinho.
Eu peguei a mania de falar muito e falar rápido;
Peguei o seu jeito de conquistar os garotos;
Peguei a mania de querer ler mil livros;
Eu peguei o seu jeito de dar risada;
Peguei caronas para o Jardim Sul;
Peguei a vontade de viajar sozinha pelo mundo;
Peguei a mania de comer milho direto na lata e não esquentar a comida;
Peguei a febre que as três pegaram lá na praia.
E tem coisas que tentei pegar....
Tentei pegar sua letra, tentei pegar sua obstinação.
Seu jeito de resolver as coisas, de se virar com tudo;
Tentei pegar até esse seu jeito delicado de ser desajeitada...
Essas coisas que peguei, me lembrarei para sempre.
E essas eu não devolvo.

Historinhas para se pensar

Há dois porcos espinhos vivendo no ártico. Faz muito frio e eles resolvem se abraçar para se aquecer. A medida que se aproximam, seus espinhos começam a machucar a pele um do outro, de modo que afastam e começam a tremer de frio outra vez. E então eles se aproximam e se afastam, até encontrarem a distância com a qual possam aquecer-se e alimentar-se sem causar dor um ao outro...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O homem que não tem vida interior é escravo do que lhe cerca.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Garota de papel de carta

"...Bolhinha de sabão é uma metáfora bonita para a palavra momento né?..."...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Fora de foco II

Para Calligaris, felicidade está diretamente relacionada à intensidade, à capacidade de ser intenso com seus sentimentos. Verdadeiramente intenso. Se permitir sentir.
Perder alguém e chorar até secarem as lágrimas é felicidade.
Ouvir algo divertido e rir com vontade também é felicidade.
Sentimentos verdadeiros são felicidade.
Quando era pequeno, contou ele, gostava de andar pelas ruas ao entardecer e olhar as luzinhas dos prédios acesas. Aquilo gerava uma sensação de nostalgia pela quantidade de vidas que existiam, quantidade de famílias que provavelmente tinham uma vida parecida, mas que eu não viveria. A nostalgia profunda gerada me tornava feliz. Era um momento meu.

Fora de foco

Arnaldo Antunes disse que a felicidade é diferente da alegria. A alegria é uma coisa individual, que acontece de repente, sem explicação. Não envolve outras pessoas necessariamente, apenas o momento no qual a coisa aconteceu. A duração pode ser breve ou longa e a palavra alegria combina mais com ‘está’ do que com ‘é’.
Já a felicidade é diferente. É difícil ser feliz sem o outro. É uma coisa coletiva. É difícil ser feliz com várias pessoas tristes a sua volta. Felicidade dá mais vontade de compartilhar. Não é apenas um estalo, parece uma constante maior.

Flor do sol para ela


O bilhetinho dizia assim "Não estranhe se ele te seguir, é que o girassol sempre vai em busca da luz".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

"As palavras nos expõe aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir, mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza".

Universo feminino II

Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réus

Papai ensinou a ter cumplicidade

Você nunca lava a louça,
mas sempre deixa suas coisas arrumadinhas no armário.
Você nunca se comporta, sempre busca referências, tem respostas doidas do tipo que eu nunca pensaria, mas adoraria ter respondido.
É mega comportada. Penteia o cabelo e coloca uma daquelas florzinhas que só você sabe colocar. Maquia-se toda caprichosa, me cobre com um cobertor gostoso, diz vou contigo e ainda faz cara de princesinha de filme infantil.
E fico com vontade de agradar, ter por perto, abraçar. Tenho vontade de dizer que sem vocês não haveria a magia, não haveria as três princesas do castelo.

Indefinível,
mas não tente se matar, pelo menos essa noite não.

Papai noel, a menina e o ratinho se desencontraram

Pedi pro papai noel, e fui bem específica e rigorosa.
Tem que ser moreno e divertido, que me faça rir e dê risadas das minhas ridículas coisas. Que seja inteligente, super inteligente, pra me ensinar, mas não prepotente para não aprender. Sorriso? Qualquer um, desde que ele sempre apareça, mesmo nos momentos difíceis. Que me acompanhe e goste de música brasileira. Que seja masculino, mas tenha a sensibilidade e doçura de alguém que sabe ser romântico. Que faça questão de se dar bem com minhas irmãs e com as pessoas que me rodeiam. Que seja especial. Que me ensine a reagir de forma leve a grandes problemas e que, claro, tenha algum defeito qualquer, para que eu possa ajudar.
A listinha podia parecer grande e o bom velhinho atendeu mesmo assim.
Mas aí o natal já tinha passado, e eu estava de malas prontas para o carnaval.


O melhor espelho é um velho amigo

Briga de namorado

A formiga e a cigarra nunca haviam se visto. As vidas eram diferentes e cada uma andava com sua espécie, falando sua língua.
Um dia, ambas foram comprar pão, e se cruzaram. Mas não se viram, porque estavam distraídas, a formiguinha em comprar o necessário, e a cigarra em fazer bagunça na loja, e se foram.
Mais alguns dias se passaram, e elas então se cruzaram de novo, e depois mais uma vez e mais uma, até que se notaram.
A formiguinha então falou pra cigarra “dona cigarra, ando reparando em você nos últimos tempos...sempre fazendo bagunça e folia... o inverno esta chegando dona cigarra, e ele vem bravo este ano. Você não vai se preparar?”.
E a cigarra nem respondeu, riu e foi se embora. Porque ela ouviu a formiga, mas não falavam a mesma língua, então aquelas palavras fizeram pouco sentido.
Os meses foram se passando – a cigarra saracoteando e a formiga se organizando - e elas foram se apaixonando, mas não conseguiam se entender, porque a cigarra mantinha tudo do jeito dela, e a formiga do dela, e assim ficava difícil.
Foi esfriando, esfriando e o inverno chegou; bravo e inquieto como a formiga disse que seria.
A formiga estava preparada, é claro, afinal ela é a formiga, e a cigarra, despreparada e com muito frio.
A despreparada foi bater na porta da formiga, suplicando “por favor, me ajude nesse momento, estou sofrendo”. A outra não entendeu as palavras, mas viu os gestos e a deixou entrar.
Os dias foram se passando, e elas já estavam até batendo papo. Construíram uma língua nova, a linguagem das duas, e os ambientes da casa foram se alterando. A organizada gostava de tudo a seu jeito, então deixava suas coisas num canto, mas respeitava o canto da outra, que era a maior bagunça do mundo, mas que ela ficava furiosa se ocupassem seu espaço.
Conversas, brigas e risadas depois, o verão chegou, e era o momento da cigarrinha voltar a sua vida de cantora, voadora e bagunceira.
Foi uma grande choradeira e quando a formiga abriu a porta, a cigarra viu que já não queria mais ir. As duas tinham encontrado seu espaço, falavam igual, se entendiam muito bem e, o principal, a formiga a tinha conquistado.

Mudar o mundo

Vou começar reciclando.
Ontem reciclei alguns sentimentos.

Tantas malas

Tratou de arrumar as malas
antes de partir
para seu sonho.

Nada foi esquecido:
os textos, os ensaios,
as belas fantasias,
e o anjinho dourado
da clarinha
levado no pescoço.

Na hora H não embarcou.
Do solo, viu subir o avião
para bem longe.

Desarrumou as malas
os textos, os ensaios,
a coleção de belas fantasias,
e cuidou de guardar,
bem guardado,
o sonho
em uma caixinha de
antigos recortes.

Rumo a Berlim

A gente sempre pensa que ficar sozinho é o fim do mundo, mas ela, com aquele jeito debochado, me ensina muito.
Cigarro numa mão, cerveja na outra, sempre, e pensamentos a mil.
Ela nunca vai falar baixo, no tom normal, mas também nunca vai falar coisas banais.
Vai dar uma tragada, olhar com aquela cara que antes fazia me sentir pequena e hoje me faz sentir amiga, e dizer “No começo, quando a gente se depara sentada sozinha em algum lugar, bate o desespero. Mas você não é especial, não é única. È assim com qualquer um. Não precisa pegar o celular, ligar para um milhão de pessoas só pra provar pra si mesmo que não é uma E.T. e que tem, sim, amigos. Precisa respirar, pensar que é escolha sua e relaxar. Em alguns minutos aquele espaço no vazio passa a ser só seu, e se alguém aparecer, mesmo batendo na porta, você vai dizer que está com visita. Uma boa companhia”.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cabritinhos e brabuletinhas

Não sei porque nasci pra querer ajudar a querer consertar o que não pode ser

Universo feminino

Passei a tarde inteira querendo dinheiro para comprar uma coca-cola. Quero uma coca-cola, uma coca vai...ninguém tem trocado? Alguma moedinha? Fui e vim na quadra diversas vezes, uma coca, uma coca, eu mereço!! Estou com vontade vai....No final, alguém cedeu, me deu as moedinhas e fui à lanchonete comprar a coca-cola.
Minutos depois eu volto, com a cara mais natural do mundo, tomando um guaraná.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Ela é minha princesinha

O cego e a noite
Como ele sabe que já está escurecendo? Como ele pode fugir do perigo da escuridão, se ele próprio vive nela? E, para ele, não há perigo na escuridão. O perigo está em quem consegue vê-lo, portanto não há. Cores e luzes não fazem diferença. A beleza de uma mulher é, para ele, baseada em sua voz, em sua pele, em seu cheiro, em seu jeito de tocar, em seus passos mansinhos. O tempo não é notado. Talvez o seu cansaço seja a única medida para o término de um dia. A música é sua visão. Os sons que a vida faz. De manhã, o som da colher mexendo o café. A tarde, o som das buzinas e sirenes. A noite, a paz: o som de seu amor vindo ao seu encontro. Corujas, passarinhos, grilos. Estrelas não têm graça, porque para ele não existem. As pessoas que o rodeiam hão de ser sensíveis e boas com palavras. Para que possam dizer que o céu não é só azul. É branco, é cinza, é da cor dos pássaros que nele voam, é da cor do fim da tarde que cai, é vermelho-alaranjado, é azul-escuro, é da cor do brilho da lua. O horizonte tem um cheiro e ele pode senti-lo, porque teve de aprender. Seus sonhos são coloridos? De que cor são seus pensamentos? Sua vida é feita de pensamentos e imaginações. É feita de cheiros, de vozes, de toques, de abraços, de gostos, de coração. É seu coração que vê por ele, porque há de se respeitar mais do que nunca sentimentos e intuições. Os passos cautelosos, nunca com pressa. As palavras que saem da boca alheia são mais escutadas.
Uma vez, um garotinho cego estava desesperado, não sabíamos porquê. Cuidamos logo de lhe arrumar um campo imenso e vazio: "Eu só queria poder correr sem medo." A gente pode correr, mas também tem medo. Eu posso ver, mas eu queria enxergar as coisas como um cego. Todos os dias são noites e todas as noites duram o dia inteiro. Para um cego o dia não tem fim. Onde começa e onde termina?

POst It de cabEçeIra

Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer pouco.

Fernando Pessoa

"A liberdade é a possibilidade do isolamento.

Se te é impossível viver só, nasceste escravo".