domingo, 30 de novembro de 2008

Seu espaço no espaço

Para evitar a insanidade, cada ser humano deveria ter um espaço só seu. Um metro quadrado, a sombra de uma árvore, a carruagem urbana cheia de papéis do cavalo-homem.
Quando o mundo transmite muita informação, é no seu espaço que as idéias se acalmam.
O sentimento de ter o direito de organizar suas pequenas coisas em um lugar no planeta gera algum conforto inexplicável.
É, no entanto, relevante explicar que a interferência de outra pessoa no seu habitat desequilibra a fauna e flora do espaço.
Nesse local, é preciso que toda a bagunça seja sua, com cores que sejam suas.
O colorido transferido do homem para seu espaço é algo mágico e necessário.
Por isso lhe digo: irritação dentro de casa tem uma grande tendência a ser invasão de espaço.
Invasão dificilmente não gera guerra, acredite.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A evolução surge do confronto, não do conforto

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Yemanjá da Minha Classe

Sempre quis ser sua amiga,
Já te contei isso?
Eu via você, prima-irmã de yemanjá, preguiçosa como Macunaíma e sempre alegre
Uma canção do balão mágico
Risada colada na cara e bom humor, independente do dia
Eu sabia que dali saia uma luzinha forte
Uma luzinha que erradia por onde quer que você passe
Uma luzinha que diz, pessoal, cheguei, está na hora de sorrir
E então, eu queria ser sua amiga
Colava na turma, olhava da janela.
Torcia, pensava, articulava
Porque queria ser sua amiga
Hoje olho pra gente
Dando risada num bar tanto tempo depois e penso
Eu sabia do que estava falando
Só uma pessoa iluminada de verdade mantém sua luzinha acessa por tantos anos
Disposta a dividir com todas as amigas o seu calor
E é por isso que fico feliz
Porque sempre quis ser sua amiga

domingo, 23 de novembro de 2008

Espiral do diálogo

O buraco cravado entre nossos mundos ficou tão largo, que não acredito que exista ponte capaz de uni-los. O pior de tudo foi descobrir como somos capazes de criar abismos com as nossas palavras.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Encontram-se morangos

Minha irmã falou que tenho cheiro de morangos,
Gostei disso.
A verdade é que só tenho cheiro de morangos quando estou feliz.
As pessoas cheiram gostoso quando estão felizes.
Já exalei cobre, esgoto, pétalas de rosa.
Agora no momento, achei que estivesse sem cheiro algum,
Cheiro de coisa nenhuma.
Bom saber que exalo morangos. Se são minha fruta preferida, então estou aos pouquinhos me encontrando.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Se a luz do sol vem me trazer calor
E a luz da lua vem trazer amor
Tudo de graça a natureza dá
Pra que que eu quero trabalhar?

Procura-se eu

Vivo uma vida que não é minha
Vivo num tempo que não pertenço
Cadê?
Onde fui?
Esse corpo, de quem é?
Quem pensa assim?
Não sou eu, não sou eu.
Não sei quem habita este momento
Quem conversa sobre nada e tenta ser ninguém
Quem já não tem mais rotina
Não, não sou eu
Esta não pode ser eu.
Essas frases que saem da minha boca, não fui eu que pronunciei,
Falo e não me identifico
Falo e não me lembro
Não, não pode ser eu.
Perdi-me por aí
Habito outra vida
Esta aqui no espelho, esta não pode ser eu.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Historinha pra pensar VIII

Andavam o discípulo e seu apóstolo por uma floresta, conversando sobre a importância dos encontros inesperados. Ambos param diante de uma fazendinha bastante humilde e decidem entrar. Dentro mora uma família com roupas surradas.
Logo que entram na casa o pai, chefe da família, mostra-lhes uma vaquinha e explica que tem nela todo sustento da casa, com seu leite alimentam-se e vendem o leite por outros objetos numa cidade próxima.
O discípulo e seu acompanhante conversam um pouco e se despedem.
No caminho de volta o mestre diz ‘quero que você volte à casa e jogue a vaca no precipício’.
O apóstolo assustado responde ‘mas mestre, a vaca é o sustento de toda a família, dessa maneira os mataremos também!’.
Mas o filósofo não muda de idéia.
Chateado, o discípulo obedece, matando a vaca e a cena fica em sua memória.
Anos depois, já um empresário bem sucedido, o apóstolo decide voltar ao local para se desculpar do que fizera e oferecer ajuda à família, caso esta tivesse sobrevivo. Ao chegar na casa, no entanto, depara-se com uma belíssima fazenda, grande, com frutos, crianças brincando no jardim florido e um carro parado na garagem.
Assustado, ele entra na casa e o dono da casa logo o reconhece ‘olá discípulo, como vai você e seu mestre?’, ele nem responde, apenas interessado em saber como ocorrera aquela mudança. ‘Bem, nós tínhamos uma vaca, mas ela caiu no precipício e morreu – disse o senhor. Então, para sustentar minha família, tive que plantar ervas e legumes. Como as plantas demoravam a crescer, comecei a cortar madeira para vender. Ao fazer isso, tive que replantar as árvores e precisei comprar mudas. Ao comprar mudas, lembrei-me da roupa dos meus filhos e pensei que talvez pudesse cultivar algodão. Passei um ano difícil, mas quando a colheita chegou, eu já estava exportando legumes, algodão e ervas aromáticas. Nunca havia me dado conta de todo o meu potencial aqui: ainda bem que aquela vaquinha morreu ...’

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uns cafezinhos

Você ri e fala que sou inconstante
E eu continuo:
Quero ajudar o mundo
Não, não
Quero ler muito pra falar sobre assuntos diversos
Ou é melhor ser boa em um só?
Vou mudando de tema entre uma respirada e outra
Ai, como eu quero morar fora! Pra sentir medo...
Você olha achando que talvez enlouqueci, mas que tudo bem
Eu completo, é importante sentir medo pra aprender a se virar com ele e, mais que isso, saber que tipo de reação tenho diante do medo
Você toma mais um gole do café e me explica uma coisa qualquer,
Mas nesse minuto eu já estou em outro assunto
Gesticulando, falando às vezes alto, às vezes baixo
E você corre pra me acompanhar
Eu até penso que estou falando demais, diminuo o compasso um pouquinho, mas distraída acelero de novo
Você vai no meu ritmo pra me agradar,
Só às vezes reclama,
Que sou inconstante.